quinta-feira, 20 de abril de 2017

Nunca mais!



Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.

E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".

No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".

Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranqüilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."

“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".

E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!

Edgar Allan Poe

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Black Flame

Incinerate my skin
And touch me far far beyond
Burn me out, my sin
And take me deeper underground
I know it's way too late
When this dance has begun
So put on the heat
And let the fire run

Take me away, my black flame

Immaculate you are
In your tender violence
And when you touch my heart
I'll always lower my defense
Don't let me wait too long
Cause I don't like to be save
We know we can't go wrong
On our way through time and space

Take me away, my black flame

terça-feira, 11 de abril de 2017

Every day is exactly the same

I believe I can see the future
As I repeat the same routine
I think I used to have a purpose
But then again
That might have been a dream
I think I used to have a voice
Now i never make a sound
I just do what I've been told
I really don't want them to come around again

Oh, no

[Chorus]
Everyday is exactly the same
Everyday is exactly the same
There is no love here and there is no pain
Everyday is exactly the same

I can feel thier eyes are watching
In case I loose myself again
Sometimes I think I'm happy here
Sometimes, yet I still pretend
I can't remember how this got started
But I can tell you exactly how it will end

[Chorus]

I'm writing on a little piece of paper
I'm hoping someday you might find
I'll hide it behind something
They won't look behind
I am still inside here
A little bit comes bleeding through
I wish this could have been any other way
But I just don't know- I don't know what else I can do!

[Chorus]
Todo dia é exatamente o mesmo
Eu acredito poder ver o futuro
Pois repito a mesma rotina
Acredito que costumava ter um propósito
Mas então
Talvez tenha sido um sonho
Acho que costumava ter uma voz
Agora nunca emito um som
Só faço o que me mandam
Eu realmente não quero que eles voltem de novo

Oh, não

[Refrão]
Todo dia é exatamente o mesmo
Todo dia é exatamente o mesmo
Não há amor aqui e não há dor
Todo dia é exatamente o mesmo

Sinto que os olhos deles estão vigiando
Caso eu me solte novamente
Às vezes acho que sou feliz aqui
Às vezes, ainda continuo fingindo
Não posso lembrar como isto começou
Mas posso te dizer exatamente como isto irá terminar

[Refrão]

Estou escrevendo num pedacinho de papel
Eu espero que algum dia você possa encontrar
Eu o esconderei atrás de algo
Eles não olharão para trás
Ainda permaneço aqui dentro
Um pouco mais começo a sangrar
Queria que tivesse sido de outro jeito
Mas apenas não sei! Não sei o que mais posso fazer!

[Refrão]



quinta-feira, 23 de março de 2017

World Coming Down

World Coming Down

She thinks I'm Iron Man,
that I don't feel pain
I don't understand why joy
must be feigned
I'm so fortunate yet
filled with self-hate
That the mirror shows
me an ingrate
I could easily start
pointing fingers
Since the blame is mine
it always lingers
That the truth it lies in
my reflection
Though this can't go on,
there's no question
Yeah I know that my
world is coming down
Yeah I know I'm the one
who brought it down
How quickly pass the days,
long is the night
Lying in bed awake
bathed in starlight
Better to live as
king of beasts
Than as a lamb
scared and weak
I will deny my role
as a human
Holding myself hostage
with no demands
It's better to burn
quickly and bright
Than slowly and dull
without a fight

Mundo Vindo a Baixo

Ela pensa que eu sou o homem de ferro
Então eu não sinto a dor
Eu não entendo o porquê da alegria
Deve ser fingida
Eu ainda tenho tanta sorte
Preenchido com metade de ódio
Isso que o espelho mostra
Eu, um ingrato
Eu poderia facilmente começar
A apontar o dedo
Desde que a culpa seja minha
Isso sempre dura
No que a verdade mente
Meu reflexo
Embora isso não possa continuar
Não há dúvidas
Yeah você sabe que meu
Mundo está vindo a baixo
Yeah você sabe que fui eu
Quem trouxe ele pra baixo
Como os dias passam rápidos
Longa é a noite
Deitado na cama, acordado
Banhado na luz das estrelas
Melhor viver como
O rei das bestas
Do que como um cordeiro
Assustado e fraco
Eu negarei meu papel
Como humano
Prendendo-me como refém
Sem demandas
É preferível queimar
Brilhante e rapidamente
Do que tediosa e lentamente
Sem uma batalha

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

"Ser são é fácil, mas pra ser bêbado tem que ter talento.” Charles Bukowski

domingo, 22 de janeiro de 2017

Em cem anos...

Abandone tudo o que não te serve mais, o que não está mais em conexão e alinhamento com sua verdade superior e com sua essência imortal. É inacreditável a quantidade de lixo que vamos armazenando e estocando pelo caminho: simplesmente abandone. Deixe de ter tanta opinião pronta sobre todas as coisas - permita-se não saber de tudo. Permita-se o vazio. Vá um pouco mais além na sua compreensão do mundo, expanda seu senso de presença e aceite a verdade de que, em 100 anos, você quase não terá deixado rastros de sua existência neste lindo planeta. A vida é curta demais para não ser um pouco mais livre do que você vem sendo ♡

Flávia Melissa

sábado, 21 de janeiro de 2017

Daemon

Daemon (em grego δαίμων, transliteração daímôn, tradução "divindade", "espírito"), no plural daemones (em grego δαίμονες) é um tipo de ser que em muito se assemelha aos gênios da mitologia árabe.
A palavra daímôn se originou com os gregos na Antiguidade; no entanto, ao longo da História, surgiram diversas descrições para esses seres. O nome em latim é daemon, que veio a dar o vocábulo em português demônio.
São deuses de determinadas entidades da natureza humana, como a Loucura, a Ira, a Tristeza, etc. Xenócrates associava os deuses ao triângulo equilátero, os homens ao escaleno, e os daimons ao isósceles.[1]
Seu temperamento liga-se ao elemento natural ou vontade divina que o origina. Não se fala em "bem" ou "mal". Um mesmo daemon pode apresentar-se "bom" ou "mau" conforme as circunstâncias do relacionamento que estabelece com aquele ou aquilo que está sujeito à sua influência.
No plano teleológico, os gregos falavam de eudaemon (εὐδαίμων, eu significando "bom", "favorável") e cacodaemon (κακοδαίμων, kakos significando "mau"):[2] por isso, a palavra grega que designa o fenômeno da felicidade é Eudaimonia (εὐδαιμονία). Ser feliz para os gregos é viver sob a influência de um bom daemon.[3]. Assim é a forma como Sócrates se refere a seu daemon [4].
O conceito original entre os gregos ainda os conecta:
  • aos elementos da natureza, surgidos em seguida aos deuses primordiais. Assim, há daimones do fogo, da água, do mar, do céu, da terra, das florestas, etc.
  • a espíritos que regem ou protegem um lugar, como uma cidade, fonte, estrada, etc.
  • às afetações humanas, de corpo e de espírito, tendo sido estes daimones criados depois. Entre eles estão: SonoAmorAlegriaDiscórdiaMedoMorteForçaVelhiceCiúmes etc.[5]
  • Na antiga Grécia eram ligados a Deusa anciã Hécate, muitos deles viviam entre os mortos no Submundo, porém alguns viviam entre os deuses no Olimpo, outros viviam entre os mortais na Terra.
O termo "daímôn" o gênio pessoal, usado por Sócrates quando ao contrário de seus colegas sofistas não abriu escola assim como não cobrou dinheiro por seus ensinamentos. Ele dizia que apenas falava em nome do seu "daímôn", do seu gênio pessoal.
A palavra "daímôn", da qual fizeram o termo demônio, não era, na Antiguidade, tomada à parte má, como nos tempos modernos. Não designava exclusivamente seres malfazejos, mas todos os Espíritos, em geral, dentre os quais se destacavam os Espíritos Superiores, chamados de Deuses, e os menos elevados, ou Demônios propriamente ditos, que comunicavam diretamente com os homens.

Magia do Caos-Quebra de Paradigma Mágico - ou "Quebrar o Ego"

Uma das mais curiosas questões da Magia do Caos é o conceito de Quebra (ou Troca) de Paradígma Mágico, ou "Quebra do Ego". Usando o termo de Thomas Kuhn, Carroll criou a técnica de arbitrariamente modificar o modelo (ou paradigma) de magia das pessoas, uma questão principal na Magia do Caos. Através desta, o magista busca por trocar constantemente a crença em um paradigma, não apenas de forma linear como é visto nas outras pessoas, mas de forma objetiva e proposital, ziguezagueando entre crenças diferentes (e geralmente contraditórias) e "se aproveitando" dos resultados que elas geram sem ficar preso a nenhuma.
Esta quebra é encontrada não apenas em ritos, mas também no dia a dia, através da chamada "quebra do ego".
Muitos caoístas uniram a Magia do Caos ao uso de diversas ciências modernas, entre elas a Psicologia e a Psicanálise.
Como a base de trabalho dos ritos caoístas consiste na total desconstrução de tudo rumo ao Caos (daí o nome Caoísmo), uma técnica muito utilizada no treinamento pessoal dos caoístas é a chamada "quebra do ego", que consiste em negar e trocar gostos pessoais como uma forma de banimento pessoal, indo contra tudo aquilo que o ego acredita como pessoa, gerando em si mesmo a desconstrução buscada pela Magia do Caos. Um exemplo de quebra do ego é por exemplo, um vegetariano comer carne. Aqui cabe imaginação ao magista, para aplicar estes exercícios em âmbitos profissionais, sexuais, familiares, gregários, entre outros, e conseguir permanecer são - podendo ser até este conceito questionado.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Somos de uma linhagem cujas raízes estão no céu escuro do cosmos

Somos de uma linhagem cujas raízes estão no céu escuro do cosmos. Temos livre trânsito entre os mundos, e as brumas, sombras e crepúsculos nos cobrem a alma dos profanos, mas para aqueles que já adentraram no templo estamos vestidos de céu. O corpo é o templo externo da alma, não o seu cárcere. Percorremos as eras e as culturas em humilde anonimato, semeando nossa arte, velha como a noite. Nossa obra é realizada transpondo os portais da noite, do sonho, da magia, do êxtase e da morte. Muitos são os nossos nomes.
As fronteiras geográficas são coisas dos homens, mas nossa ascendência é divina. Iremos aonde o vento possa nos levar, aonde as águas possam fluir, aonde a terra nos abra seus caminhos, nossa alma está em comunhão com todo o fogo que ilumina esta Terra. Nosso dever prescrito é o desenvolvimento do potencial divino na humanidade - espaço infinito do possível - em toda a sua plenitude. Não pertencemos a este tempo, não pertencemos a esta terra. Essa roda jamais cessará seu giro. Venha conosco...
(Do Livro das Sombras de Casta Diva)

sábado, 9 de maio de 2015

Eleven


You whisper in my ear, words I've never heard
Do they really exist, or am I out of order?
And if he shows up here, just the way I prefer
You're giving me a tear, like you never give up
Climbing on your thoughts to heaven
We don't have to talk, we are even
Catch me if you can, nearer
On a scale of ten, we are eleven
We are eleven
We are eleven
We are eleven
Now we are floating here, hours after hours
Nothing interferes, erasing past and future
My only question is, where were you before?
Sweet dreams are made of this, it doesn't matter anymore
Climbing on your thoughts to heaven
We don't have to talk, we are even
Catch me if you can, nearer
On a scale of ten, we are eleven
We are eleven
We are eleven
We are eleven