terça-feira, 31 de agosto de 2010

Cosmoconsciência

Condição de expansão máxima de lucidez e percepção, vivida pela consciência que, nesse estado, se sente una com o Universo e se torna capaz de, no período da experiência, alcançar uma existência inteira de entendimento, revelação, iluminação e autotranscendência. É uma experiência de difícil tradução em palavras e muitas vezes quem a vivencia não consegue trazer para o cérebro físico tudo aquilo que percebeu e vivenciou. Também conhecida por consciência cósmica, mente cósmica, nirvana, samádi, satori, Tao absoluto.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Embriague-se






É preciso estar sempre embriagado. Aí está: Eis a única questão
Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso. Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se. E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.


Charles Baudelaire

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ciganos em Viagem

A tribo que prevê a sina dos viventes
Levantou arraiais hoje de madrugada;
Nos carros, as mulher', c'o a torva filharada
Às costas ou sugando os mamilos pendentes;

Ao lado dos carrões, na pedregosa estrada,
Vão os homens a pé, com armas reluzentes,
Erguendo para o céu uns olhos indolentes
Onde já fulgurou muita ilusão amada.

Na buraca onde está encurralado, o grilo,
Quando os sente passar, redobra o meigo trilo;
Cibela, com amor, traja um verde mais puro,

Faz da rocha um caudal, e um vergel do deserto,
Para assim receber esses p'ra quem 'stá aberto
O império familiar das trevas do futuro!

Charles Baudelaire

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

LINHAS SOBRE A CERVEJA

Cheio de espuma e âmbar misturados
Esvaziarei este copo novamente
Visões as mais hilariantes embarafustam
Pela alcova de meu cérebro
Pensamentos os mais curiosos fantasias as mais extravagantes
Ganham vida e se dissipam;
O que me importa o passar das horas?
Hoje estou tomando cerveja.


Edgar Allan Poe

Razão de Ser

Escrevo.

E pronto.

Escrevo porque preciso,

Preciso porque estou tonto.

Ninguém tem nada com isso.

Escrevo porque amanhece,

E as estrelas lá no céu

Lembram letras no papel,

Quando o poema me anoitece.

A aranha tece teias.

O peixe beija e morde o que vê.

Eu escrevo apenas.

Tem que ter por quê?


Paulo Leminski

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sociedade Epicuréia (ou a Casa de Satã)



Em Macário, livro de Álvares de Azevedo, Satã, ao chegar a São Paulo, diz o seguinte:

"- Tenho uma casa aqui na entrada da cidade. Entrando, à direita, defronte do cemitério."

Essa casa existiu.

Em seu livro E assim nasceu a Escrava Isaura, José Armelim, neto de B.G., informa que a casa era conhecida por Chácara dos Ingleses, porque seu primeiro morador foi o inglês John Rademacker.

Ela ficava na Rua da Glória (hoje Praça Almeida Júnior), defronte a um cemitério de indigentes e de escravos.

Foi nessa casa em que moraram os estudantes Alvares Azevedo, autor de Se eu morrese amanhã, Bernardo Guimarães e Aureliano Lessa, entre outros.

A casa tornou-se famosa porque nela, em 1849, os estudantes da São Francisco fundaram a Sociedade Epicuréia. Na casa, uma turma de rapazes "pintou o diabo e celebrou maluquices, alarmando a pacata cidadezinha de São Paulo", registra o escritor Raimundo de Menezes na edição de 14.06.1946 do Estado de S. Paulo.

Bernardo de Guimarães era um dos principais animadores da Casa de Satã.

A Sociedade Epicuréia inspirava-se no romantismo do excêntrico poeta George Gordon Byron (1788-1824). Lord Byron, como era conhecido, cultivava a beleza do horror, do repulsivo, do monstruoso, do satânico. Cultivava a energia rebelde, numa contraposição à estética clássica, à passividade, à inércia.

Byron teve grande influência em toda a Europa e repercurtiu-se também nos rapazes da Faculdade São Francisco, principalmente em Álvares de Azevedo.

As sessões da Sociedade Epicuréia - realizadas na Chácaras dos Ingleses e em outras repúblicas da periferia - abalaram a pacata São Paulo.

Couto de Magalhães conta que "Bernardo, Azevedo e [Aureliano] Lessa dispunham de tudo para o cerimonial da orgia. Tapetes, indumentária, caveiras, ossos humanos, trípodes, caçoilas, armações funerárias etc. Na Epicuréia dominavam reflexos de satanismo".

As mulheres não participam das sessões. "Mulheres só eram permitidas nas libertinagens sem cerimonial", explica Magalhães.

Bernardo Guimarães exagerava no álcool, principalmente o éter. "Ficou semanas inteiras sepulto, com os comparsas, nos comodos, bebendo sem parar. Registraram-se cenas indecorosas, impossíveis de serem narradas. E houve desregramentos piores, de horrorizar. As sessões terminavam quando não havia mais bebidas", relata Magalhães.

O cerimonial obedecia algumas orientações byronianas.

Na casa eram soltos gatos pretos, sapos, corujas, morcegos, urubus, cobras, lagartixas e tudo quanto é bicho do folchore do horror.

Entre uma declamação e outra de poemas, o vinho era servido em caveiras roubadas do cemitério de indigentes. Havia brindes a Baco, a Epicuro e a Sileno.

Do lado de fora, sem entender nada e com medo, ficavam os escravos dos estudantes.

Em algumas sessões, havia encenações d'A Divina Comédia. Em outras, enquanto alguns estudantes corriam pela casa imitando animais, Bernardo cantava canções macabras e Álvares de Azevedo lia contos de horror.

Os excessos alcóolicos dessas farras prejudicaram a saúde de muitos estudantes, levando-os à morte precoce. Esse não foi o caso de B.G., que morreu aos 69 anos.

O crítico literário Antônio Cândido, no Estado de S. Paulo de 25.01.1954, assim sintetizou a Sociedade Epicuréia: "Ponto de encontro entre a literatura e a vida, onde os jovens procuravam dar realidade às imaginações românticas".

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Não há maior ego...

Não há maior ego do que o daquele que se julga acima dos outros por ter domado o ego.
Ao dominar o ego, ao buscar a transcendência e negar o mundo, ele comete o maior EGO de todos:
Achar que não tem ego, e que está além do mundo em que vive.


Osho