quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Shiva e Parvati



Shiva e a sua consorte, Parvati, representam a dualidade do Universo Manifestado: Espírito e Matéria, Purusha e Prakriti . A tradição conta que:
O Cosmos girava à volta do Monte Mandara e no seu pico encontrava-se Shiva, em serena meditação, desligado do mundo, transcendendo samsara .
Brahmâ, o Deus Criador, dirigiu-se a Vishnu, o Salvador Cósmico, e perguntou: “Se todas as criaturas sobre a terra renunciarem ao mundo, como Shiva, o Universo cessará de existir. O que poderá ser feito para o evitar?”
Vishnu respondeu: “Temos de lhe arranjar uma mulher que o traga de volta ao mundo. Para que a sociedade sobreviva, mokska - a libertação espiritual, deverá ser complementada com o cumprimento do dharma, o dever material. A senda da renúncia, o yoga, deverá ser balançado como envolvimento na existência, bhoga. Juntos, Shiva e a sua consorte, irão gerar o caminho-do-meio, aquele entre a participação e a renúncia.” Brahmâ concordou.
De repente, o antagonismo entre Brahmâ e Shiva tornou-se claro para os deuses - Brahmâ era rajásico, activo e energético, ao passo que Shiva era tamásico, “passivo” e “inerte”. O que Brahmâ criava, Shiva destruía; o que Shiva destruía, Brahmâ recriava. Ambos justificavam a existência um do outro. Entre Shiva e Brahmâ encontrava-se Vishnu – totalmente sáttvico, tentando constantemente criar um balanço entre o Criador e o Destruidor.
“Mas onde iremos encontrar uma mulher que se equipare a Shiva em espírito e força?!”, exclamou Brahmâ.
“Eu já encontrei uma - a própria Deusa-Mãe”, respondeu Vishnu.
“Sim, sim. Quem melhor do que ela, a personificação de prakriti?! Mas irá ela aceitar?”
“Ela já aceitou… olha, já encarnou como Sati, a filha mais nova de Daksha.”
“Como posso eu casar com ela se eu renunciei ao mundo?!”, gritou Shiva quando Vishnu fez a sugestão. Mas ele não foi capaz de ignorar a intensidade do amor de Sati.
“Porque queres tu casar comigo?”, perguntou Shiva a Sati.
“Porque eu estou incompleta sem ti e tu estás incompleto sem mim.”
“Mas eu não tenho nada para te oferecer.”
“Eu não peço nada a não ser tu.”
A determinação de Sati impressionou Shiva, que a aceitou como sua consorte. Brahmâ e Vishnu rejubilaram.
Daksha, o pai de Sati, o guardião da civilização, não gostava de Shiva, pois este era um eremita que não vivia de acordo com as leis da civilização. Um dia, Daksha tomou a iniciativa de realizar um prodigioso sacrifício, para o qual seria convidada toda a criação, excepto Shiva e Sati. Apesar de Shiva ter tentado demover Sati, esta foi na mesma até casa do pai. Quando lá chegou, junto do fogo sagrado estavam sábios, deuses, deusas, mas ninguém se levantou para a cumprimentar; até o seu pai não se mostrou particularmente feliz por vê-la. De repente, tudo se tornou claro: Sati apercebeu-se que o sacrifício era um elaborado ritual com o objectivo de denegrir o seu Senhor. A humilhação foi tão grande que a morte pareceu a melhor alternativa. A notícia da morte de Sati deixou Shiva destroçado e, então, veio a dor. O Deus experenciou a angústia da separação e da solidão e isolou-se nas cavernas geladas dos Himalaias.
A Deusa-Mãe, encarnação de toda a matéria, nunca é estável, está constantemente num estado de fluxo. A sua morte foi apenas uma transformação. Sati iria retornar noutra forma. Os Deuses sabiam-no e Shiva também…
Nos Himalaias havia um rei chamado Hivamam, casado com a rainha Mena, que tinha uma belíssima filha chamada Parvati ou Uma, filha das montanhas. Parvati era Sati reencarnada, e estava decidida a reconquistar o seu amado. E assim foi… Perante o fogo sagrado, Shiva e Parvati procederam ao ritual que os consagrou marido e mulher e os tornou nas duas partes do Todo. Os dois completavam-se perfeitamente, existindo entre eles uma perfeita harmonia. Parvati era a pupila perfeita e Shiva o professor perfeito. Através das sagradas conversas entre eles, foram revelados os segredos dos Vedas, o esplendor dos Shastras (5), e o mundo foi enriquecido. O Cosmos rejubilou.

domingo, 21 de setembro de 2014

Somente quando não existe meditador, a meditação acontece







Em meditação, desfrute não fazer nada. Esteja em estado de perfeita passividade — então você estará em harmonia com o mundo.

As formas-de-pensamento dissolvem-se automaticamente porque elas não podem existir com a passividade total: elas são formas de uma mente viciada em atividade, e com elas o ego se dissolve — porque ele não pode existir sem formas-de-pensamento.

O ego não é nada mais que o centro de um redemoinho constantemente revolvendo formas-de-pensamento.

Permaneça na passividade, isto é, no estado absoluto de não-fazer, e a meditação se aprofunda a ponto de não existir mais o meditador; e lembre-se de que somente quando não existe o meditador a meditação realmente acontece.

Se você é, então não há meditação, e quando existe meditação você não é.

Osho, em "Uma Xícara de Chá"

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