sábado, 29 de janeiro de 2011

Quero Escrever o Borrão Vermelho de Sangue

        Quero escrever o borrão vermelho de sangue
        com as gotas e coágulos pingando
        de dentro para dentro.
        Quero escrever amarelo-ouro
        com raios de translucidez.
        Que não me entendam
        pouco-se-me-dá.
        Nada tenho a perder.
        Jogo tudo na violência
        que sempre me povoou,
        o grito áspero e agudo e prolongado,
        o grito que eu,
        por falso respeito humano,
        não dei.

        Mas aqui vai o meu berro
        me rasgando as profundas entranhas
        de onde brota o estertor ambicionado.
        Quero abarcar o mundo
        com o terremoto causado pelo grito.
        O clímax de minha vida será a morte.

        Quero escrever noções
        sem o uso abusivo da palavra.
        Só me resta ficar nua:
        nada tenho mais a perder.


        Clarice Lispector

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Universos paralelos

O cientista Michio Kaku afirma: “Nós estamos experimentando um choque existencial. Nossa visão de mundo foi modificada com a descoberta de que pode haver sim, universos paralelos.”

"Essa ideia vem do mundo da mecânica quântica – a ciência do átomo. No mundo atômico, elétrons são observados aparecendo e desaparecendo. Eles vão para algum outro lugar. Mas eles também podem estar em vários lugares ao mesmo tempo. Já que somos feitos de pequenas partículas de luz ou fótons, faz sentido dizer que nós também podemos estar vivendo em vários lugares ao mesmo tempo."

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Dá-me a Tua Mão


Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Experiência Psicodélica




A experiência psicodélica é caracterizada pela percepção de aspectos mentais originalmente desconhecidos por parte do indivíduo em questão. Os estados psicodélicos fazem parte do espectro de experiências induzidas por substâncias psicodélicas. Neste mesmo campo de estados, encontram-se as alucinações, distorções de percepção sensorial, sinestesia, estados alterados de consciência e, ocasionalmente, estados semelhantes à psicose e ao êxtase religioso.

Nem todos que experimentam drogas psicodélicas (como o LSD) têm uma experiência psicodélica e muitos alcançam estados alterados de consciência através de outros meios, como pela meditação, yoga, privação sensorial, etc.


Níveis da experiência psicodélica

O Psychedelic Experience FAQ (em inglês) descreve cinco níveis da experiência:

  • Nível 1:
Aumento das capacidades sensitivas (principalmente visuais), tornando as cores mais "brilhantes". Ligeiras anomalias na memória de curto prazo. Mudanças na comunicação entre ambos os lados do cérebro, tornando a música mais expressiva.
  • Nível 2:
Cores realçadas, ligeiras alucinações visuais (ex. objetos se movimentam ), desenhos parecem adquirir terceira dimensão. Pensamentos confusos; considerável aumento das capacidades criativas.
  • Nível 3:
Alucinações visuais claras, tudo parece curvado ou alterado em outros aspectos, caleidoscópios ou imagens fractais vistas nas paredes, paisagens, imagens de pessoas, etc. Alucinações com os olhos fechados se tornam tridimensionais. Há alguma confusão entre os sentidos (ex. o indivíduo começa a "ver os sons como cores"). Distorções na percepção temporal e "momentos eternos". Movimentação corporal se torna extremamente difícil (muito esforço necessário).
  • Nível 4:
Alucinações extremamente fortes (ex. objetos se fundem com outros). Destruição ou divisão múltipla do ego (ex. objetos parecem conversar com o indivíduo, ou este começa a sentir sensações contraditórias simultaneamente). Alguma perda da realidade. O tempo perde seu significado. Experiências extra-corporais. Fusão dos sentidos.
  • Nível 5:
Total perda de conexão visual com a realidade. Os sentidos deixam de funcionar em seu estado normal. Total perda da noção de ego. Sensação de fusão do indivíduo com o espaço, outros objetos, ou universo. A perda da realidade torna-se tão severa que desafia sua expressão verbal. Os primeiros estágios são relativamente fáceis de se explicar em termos de mudanças mensuráveis de consciência e padrões cognitivos. Este nível é diferente porque o universo no qual as coisas são normalmente percebidas deixa de existir.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Princesa Desalento



Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida, e sombria,
Como soluços trágicos do vento!

É fágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso duma boca fria:
Minh'alma é a Princesa Desalento...

Altas horas da noite ela vagueia...
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!

O luar ouve minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta...

Florbela Espanca

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Somos aquilo que possuímos

Somos aquilo que possuímos. O homem que possui dinheiro é o dinheiro. O homem que se identifica com a propriedade é a propriedade, ou a casa ou o mobiliário. Analogamente com ideias ou com pessoas, e quando há possessividade, não há relação. Mas a maioria de nós possui porque nada mais temos se não possuirmos. Somos conchas vazias se não possuirmos, se não preenchermos a nossa vida com mobiliário, com música, com conhecimento, com isto ou com aquilo. E essa concha faz muito barulho, e a esse barulho chamamos de viver, e com isso ficamos satisfeitos. E quando há uma interrupção, um separar-se disso, então há sofrimento porque nessa altura subitamente você se descobre a si mesmo tal como realmente é – uma concha vazia, sem muito significado.

Krishnamurti