quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Porque viver mata


O que nos envelhece e inexoravelmente leva à morte é o próprio oxigênio que nos mantém respirando


Envelhecer ainda é inevitável -e eu, francamente, espero que continue sendo, mas isso é outra história. A de hoje é sobre a razão do envelhecimento e o porquê da sua inevitabilidade.
É simples, é bonito e é paradoxal. Para a biologia atual, o que nos leva à morte é exatamente o que nos mantém vivos: o metabolismo à base do oxigênio que nossas células respiram.
O mesmo Lavoisier que descobriu que o oxigênio é fundamental para a matéria entrar em combustão e pegar fogo também observou que a respiração deve ser o mesmo processo, só que muuuito mais lento. A combustão é a reação química na qual moléculas orgânicas à base de carbono doam muito rapidamente seus elétrons ao oxigênio, liberando grandes quantidades de energia de uma vez só -daí o calor e as chamas que acompanham o processo. Liberada tão rapidamente, essa energia não pode ser aproveitada ou transformada em nada útil.
No corpo, ao contrário, a respiração celular desdobra o processo de combustão em uma série controlada de etapas intermediárias, o que ao mesmo tempo impede que o corpo se consuma de uma vez só em labaredas e permite que a energia liberada no processo seja transferida para outras moléculas, que servem como carreadores de energia. Aos poucos, assim, a energia liberada pela oxidação da glicose e de outros nutrientes sustenta o funcionamento das células.
Você "respira" usando seus músculos para forçar oxigênio para dentro, para que suas células respirem usando esse oxigênio para queimar moléculas e colher a energia liberada. O problema é que mesmo parcial, lenta e controlada, a combustão dos nutrientes dentro das suas células sempre gera moléculas altamente reativas e, portanto, tóxicas: são os radicais livres.
Ao reagir com o que estiver perto, os radicais, produzidos o tempo todo pela respiração que nos mantém vivos, aos poucos danificam a estrutura e o DNA das células, quebram o colágeno, enrijecem as artérias. 
Com o tempo, os resultados acumulados desses danos se mostram em nosso rosto -até que chegue a falência completa do corpo, danificado demais.
O que nos envelhece e inexoravelmente leva à morte é o próprio oxigênio que nos mantém respirando: ao mesmo tempo fundamental à vida, mas às custas de nos levar à morte. A vida é, portanto, necessariamente autocontrolada. Para morrer basta estar vivo, de fato. 

SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Eternamente Ela




"Ela tem a força de toda uma vida e o mistério da morte.
Tece vento, cria asas, ri sozinha e canta para lua.
Ela não precisa de roupas, de segredos, fala tudo, anda nua.
Põe magia na cama, na cozinha, fé na vida, luz ao norte.

Os pássaros que te revelam segredos pertencem à Ela.
A voz que te sopra silenciosa vem Dela.
A intuição é Dela e o amor e a paixão.
O fascínio da lua está com Ela, Ela será teu céu e teu chão.

A mão estendida será Dela... A saliva na ferida, o abraço, o laço.
O corpo nu que te aquecerá, a boca, o peito, a alma e os pés.
A fúria, o sutil, a cura... Nem sempre rosa, pedra, ao invés.
Ela é a origem do feminino... Ela é tudo o que for instintivo.

Alma de fada, carma de bruxa num corpo de Deusa.
Tem sombra felina, quatro patas, têm garras e pêlos.
Ela deixa rastros para que a siga...
Sussurra em sonhos noturnos para que A decifre.

Ela enche tua vida de sinais
Para que tenha vontade de encontrá-La, libertá-La e amá-La.
Ela é a música, a poesia, a arte e o encanto
O sopro, o tiro, cheiro de lama, Ela é de tudo um tanto.

Ela é selvagem... Elfa, demônio, anjo, raposa.
Ela é a dona da matilha, amante e esposa.
Ela é tudo que nos mantém vivos
quando achamos que chegamos ao fim.

Ela sabe sentir, disfarçar e amar profundamente
Sabe trazer para perto, sabe repelir, criar e destruir.
Ela é A que faz rir, Ela sabe o ponto para fazer o olho brilhar
E o olho Dela brilha... e o dele também.

Ela dá mais sabor ao culto da paixão...
Porque Ela é celestial, selvagem, sublime.
Dá mais sentido a vida...
Sendo o casulo, as asas, o rumo e a libertação."



Carolina Salcides