segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Martírio

Beijar-te a fronte linda:
Beijar-te o aspecto altivo:
Beijar-te a tez morena:
Beijar-te o rir lascivo:

Beijar-te o ar que aspiras:
Beijar-te o pó que pisas:
Beijar-te a voz que soltas:
Beijar-te a luz que visas:

Sentir teus modos frios:
Sentir tua apatia:
Sentir até repúdio:
Sentir essa ironia:

Sentir que me resguardas:
Sentir que me arreceias:
Sentir que me repugnas:
Sentir que até me odeias:

Eis a descrença e a crença,
Eis o abismo e a flor,
Eis o amor e o ódio,
Eis o prazer e a dor!

Eis o estertor da morte,
Eis o martírio eterno,
Eis o ranger de dentes,
Eis o penar do inferno!



Junqueira Freire

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Oceano do Outro





Há milhões de ondas no mar. Você nunca vê o mar, apenas as ondas, porque são elas que estão na superfície. Esqueça as ondas: elas não existem de fato, somente o oceano. Sempre que você tiver tempo, olhe nos olhos do amigo, do seu amor ou de qualquer outra pessoa. Não pense, apenas olhe cada vez mais fundo dentro dos olhos do outro. Logo perceberá que as ondas se cruzaram e um oceano se abriu para você. Os olhos são portas. Se você olhar profundamente, as ondas desaparecerão e o oceano se revelará. Experimente fazer isso com uma pessoa, depois tente com um animal e só então com as árvores e as rochas. Se perceber alguma coisa diferente, saiba que você está na superfície. As diferenças estão na superfície, pois a pluralidade pertence à superfície. Olhe profundamente e não se deixe iludir pela superfície. Há um oceano ao seu redor. Você e seu ego não passam de uma onda. Atrás do ego está oculto o desconhecido.


Osho

domingo, 19 de setembro de 2010

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


Florbela Espanca

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Inconstância



Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...



Florbela Espanca


terça-feira, 7 de setembro de 2010

As Portas da Percepção




"Quando nos sentimos como se fôssemos os únicos herdeiros do universo, quando 'o mar corre em nossa veias [...] e as estrelas são nossas jóias', quando todas as coisas parecem infinitas e sagradas, que motivos poderemos ter para a cobiça ou a soberba, para a fome de poder ou para as formas mais doentias de prazer?"

"As Portas da Percepção (no original em inglês, The Doors of Perception) é um livro de 1954, escrito por Aldous Huxley, onde o autor pormenoriza as suas experiências alucinatórias quando tomou mescalina. O título provém de uma citação de William Blake:

"If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite."
"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."

Baseado nesta citação, Huxley assume que o cérebro humano filtra a realidade de modo a não permitir a passagem de todas as impressões e imagens que existem efectivamente. Se isso acontecesse, o processamento de tal quantidade de informação seria simplesmente insuportável. De acordo com esta visão das coisas, algumas drogas poderiam reduzir esse processo de filtragem, ou "abrir as portas da percepção", como é dito metaforicamente. Com o intuito de verificar esta teoria, Huxley começou a tomar mescalina e a descrever os seus pensamentos e sentimentos sob o efeito da droga. A sua principal impressão será a de que os objetos do nosso cotidiano perdem a sua funcionalidade, passando a existir "por si mesmos". O espaço e as dimensões tornam-se irrelevantes, parecendo que a percepção se alarga de uma forma espantosa e mesmo humilhante já que o ser humano se apercebe da sua incapacidade para fazer face a tantas impressões.

Além de drogas como a mescalina, o LSD, o DMT (substância), a psilocibina, etc, outras formas citadas para se abrir as portas da percepção seriam:

Huxley explica que uma das razões porque as portas da percepção normalmente ficam semi-cerradas seria para a própria proteção do indivíduo, que de outra forma se distrairia com a enxurrada de estímulos desnecessários para a sobrevivência.

Esse livro foi a fonte de inspiração para o nome da banda The Doors, que apresenta uma obra com características semelhantes ao do livro, quebra de paradigmas, oposição a normas e costumes vigentes e uso de drogas."